sexta-feira, setembro 10, 2004

O sonho de um curioso

Conheces, como eu, a dor mais saborosa,
E de ti dizem outros: "Que homem singular!"
- Ia morrer. Na minha alma tão ardorosa
Havia horror, desejo, um mal peculiar;

Viva esperança e angústia, sem humor faccioso.
Ao ficar a ampulheta fatal mais vazia,
Mais era o meu suplício áspero e delicioso;
Todo o meu coração deste mundo fugia.

Era como uma criança ávida de espectáculo,
Odiando a cortina como um obstáculo...
E enfim se revelou a mais crua verdade:

Morrera sem surpresa e a aurora terrível
Envolvia-me - Então?! será apenas isto?
O pano já subira e eu ainda esperava

Baudelaire, As Flores do Mal, 1857

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