Conheces, como eu, a dor mais saborosa,
E de ti dizem outros: "Que homem singular!"
- Ia morrer. Na minha alma tão ardorosa
Havia horror, desejo, um mal peculiar;
Viva esperança e angústia, sem humor faccioso.
Ao ficar a ampulheta fatal mais vazia,
Mais era o meu suplício áspero e delicioso;
Todo o meu coração deste mundo fugia.
Era como uma criança ávida de espectáculo,
Odiando a cortina como um obstáculo...
E enfim se revelou a mais crua verdade:
Morrera sem surpresa e a aurora terrível
Envolvia-me - Então?! será apenas isto?
O pano já subira e eu ainda esperava
Baudelaire, As Flores do Mal, 1857
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